domingo, 17 de junho de 2012

O PRAZER DE SE ALIMENTAR BEM




“Você é o que você come!” Esta frase, tão batida quanto antiga, traduz o sentimento de uma corrente de consumo que cresce cada dia mais entre a população. São pessoas que resolveram, literalmente, abandonar os prazeres, e os malefícios, da carne e dos alimentos altamente industrializados, em prol de hábitos alimentares mais saudáveis. E que respeite, sobretudo, os limites da capacidade de produção da natureza e do seu próprio organismo

Porém, aderir e seguir a este novo estilo de vida nem sempre é uma tarefa fácil, principalmente se o consumidor estiver distante das capitais e dos grandes centros urbanos. Os primeiros empecilhos e limitadores para o consumo dos alimentos saudáveis, digam-se orgânicos, integrais e naturais, aparecem logo de cara nas duas premissas básicas inerentes à economia: Preço e oferta. Em geral alimentos orgânicos costumam ser mais caro em média de 30 % a 40%, e a diferença de preço dos encontrados nas feiras livres para os expostos nas prateleiras dos supermercados podem chegar a astronômicos 463%, conforme dado oferecido pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec)
Segundo a professora de economia, e adepta da alimentação natural, Lígia Soares, “os produtos orgânicos, devido ao fato de serem itens que compõem um nicho de mercado, feitos em baixa escala de produção, ainda são caros e inacessíveis à mesa da maior parte da população”. Comentou a professora que acredita que só não há mais consumo de produtos orgânicos devido ao alto custo das mercadorias. “Não é que as pessoas não queiram se alimentar de forma mais adequada e saudável, substituindo os fast-foods e enlatados por alimentos naturais. O problema é que elas realmente não têm condições de cobrir tais ofertas”. Diz a economista, acrescentando à receita a falta de informação e educação alimentar

Porém, para aqueles que ultrapassam essas barreiras, a recompensa é garantida. “E vale a pena! São incontáveis os benefícios ganhos por uma alimentação à base de produtos naturais,” afirma Lígia Soares, ao salientar que tal escolha, além de movimentar a microeconomia local, através do comércio de produtos que saem diretamente das mãos de pequenos produtores rurais, também propicia um momento de prazer e espiritualidade. “A alimentação natural resgata o contato do ser humano com a terra, com a natureza. E quando você vai a uma feira também há contato com outros seres humanos, como o próprio vendedor, que às vezes se torna um amigo, e com outros consumidores. A feira também pode ser vista como um local de afirmação das relações sociais.” Defende Lígia com entusiasmo

POR UM PREÇO MENOR

“Você consumiria mais alimentos orgânicos se...?” Esse foi o mote da pesquisa realizada e postada no site do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) no último janeiro, que demonstrou que a grande maioria dos internautas que respondeu à enquete (74%) escolheu a opção “se ele fosse mais barato”. Em segundo lugar, com 20% dos votos, veio a opção “se houvesse mais feiras especializadas perto da minha casa”. Esta pesquisa, fruto de uma parceria do Idec com o Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECDC) e outras organizações que apoiam a comercialização agroecológica, além de ratificar o que a professora havia falado, também revelou um panorama nacional das distribuições das feiras de produtos orgânicos

Vale destacar que, das 27 capitais pesquisadas, apenas em cinco não foi encontrado nenhum tipo de segmentação de mercadorias orgânicas. Em Boa Vista (RR), Cuiabá (MT), Macapá (AP), Palmas (TO) e São Luís (MA) nenhuma feira foi localizada. O Rio de Janeiro ocupa o lugar de honra, sendo a capital que mais possui feiras orgânicas e agroecológicas, somando um total de 25 espaços voltados a esse tipo de comércio. Brasília (DF) ficou em segundo, com 20 feiras, seguida por Recife (PE) com 18 e Curitiba (PR) com 16. Porém os números encontrados nessas cidades são exceções, pois a maioria das capitais conta com números mais modestos. Como é o caso de São Paulo (SP), maior cidade do país e da América Latina, que deixou a desejar oferecendo apenas nove endereços. Apesar de ser a única cidade a ter uma feira, (Feira Orgânica do Jardim Bonfiglioli), que funciona regularmente todos os dias. Ao contrário das demais, que têm expediente limitado a apenas um ou dois dias da semana

CENÁRIO LOCAL

Na capital do estado, Belo Horizonte, segundo a pesquisa do Idec, foram catalogadas nove feiras. Porém em Juiz de Fora o cenário é bastante diferente. Na cidade, tida como importante entreposto entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, não há sequer uma única feira dedicada exclusivamente aos produtos orgânicos. O mais perto que chegamos, além de encontrarmos restaurantes vegetarianos espalhados pelo centro e zona sul, foram alguns produtos que são oferecidos aleatoriamente em feiras diárias, mercados e por pequenos produtores que disponibilizam suas mercadorias diretamente ao consumidor final

Na Cidade Alta, em São Pedro, onde acontece todos os sábados, das 7h às 12h30, a Feirinha da Rua Antônio Rufino, pode-se encontrar alimentos naturais, como hortaliças e hortifrúti, nas mãos de agricultores locais que, embora não tenham mecanismos eficazes e concretos que possam comprovar a procedência de sua mercadoria, garantem ser os produtos totalmente produzidos de forma natural, sem uso de agrotóxicos, e em pequena escala

Já a feira do Mercado Municipal, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, que funciona diariamente no anexo do prédio situado à Av. Getúlio Vargas 200, é o lugar onde mais encontramos produtos naturais e orgânicos. Lá se pode comprar legumes, verduras, frutas, mel, laticínios e produtos processados

VEGETAIS À VISTA

Apesar de ser visível a carência de estabelecimentos do tipo na cidade, há quem veja o mercado local com bons olhos e acredite que dias melhores virão. É o caso da produtora cultural Aline Freitas, 31, que sempre viveu em Juiz de Fora. Aline não é vegetariana, mas baniu a carne vermelha do cardápio há seis anos, algo que, segundo ela, não faz falta alguma à sua vida. Ao contrário só vê vantagem em tal escolha. “Quando comia carne me sentia muito pesada, com dificuldade de digestão”, relata Aline, admitindo que sua escolha se deu, apesar da consciência trazida pela maturidade, somente por  necessidade física, mas que se sente bem em pensar que não colabora com a matança de animais

NA BUSCA POR ESPAÇO


A produtora cultural Aline Freitas
Oriunda de família carnívora, Aline diz ter suado bastante para conseguir um lugar ao sol na hora da escolha dos ingredientes que compõem a mesa da família. “Na minha casa foi uma luta porque carne é presença certa na mesa. Há menos de um ano tenho conseguido mais espaço no menu caseiro.  Antes tarde do que nunca”

E não é apenas em casa que a produtora observa a gradativa mudança de cenário. Ela pondera que, apesar de, em Juiz de Fora, ainda ser difícil optar por tal tipo de alimentação, percebe que as coisas estão começando a melhorar. “A classe empresarial já está percebendo que existem pessoas que não comem carne. Há mais restaurantes que começam a trabalhar com cardápio vegetariano”

 OUTRAS OPÇÕES

Além da compra de produtos naturais espalhados por supermercados, feiras livres e especializadas, ainda há outras opções, porém menos convencionais e usuais, para quem busca uma alimentação saudável, rica em nutrientes e produzida de forma ‘limpa’ e sustentável

A partir do final da década de 90 começou a surgir movimentos do tipo “Plante Você Mesmo”, que consiste na opção feita por pessoas comuns, moradoras da cidade e de grandes centros urbanos, por cultivar e colher parte dos alimentos que vão para sua mesa. Essas pessoas, além da alimentação saudável, também visam contribuir com a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera, gases que agravam o efeito estufa, tão presentes no processo de produção das grandes empresas do setor de alimentos

A individual escolha e adoção de medidas como estas está longe de corrigir ou solucionar os complexos problemas vividos pelo planeta, mas com certeza ajudará na minimização do impacto negativo das atividades humana sobre o meio-ambiente. Algo que motivará mais saúde, bem-estar e harmonia entre os seres-humanos e a natureza.


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